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CRISE POLÍTICA NO BRASIL

Por: Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA
É lastimável que o PT, tendo assumido o Poder, ainda não tenha assumido o Governo
O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (PFL/PE pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados: Nas duas últimas semanas, a mídia nacional mostrou, inquieta, o perfil da crise política que abala a confiança dos investidores e fez a Bolsa de Valores no Brasil ficar bem atrás das Bolsas de Valores de outros países emergentes, com números que chegam a preocupar para 2005: perspectiva cadente de crescimento do PIB (como já acontece em 2004) para algo em torno de 3,5%, o que não deixará muita margem à criação de empregos – aquela almejada meta de 10 milhões de empregos em 4 anos do Governo Lula.
É lastimável que o PT, tendo assumido o Poder, ainda não tenha assumido o Governo. Se bem que a crise política provocada pelo chamado “caso Waldomiro” esteja em “ponto morto”, há sinais preocupantes na sociedade civil: as invasões de terras em todo o país, inclusive no estado natal do Presidente Lula e no meu, Pernambuco, com a anunciada marcha dos “sem terra” sobre o Recife no dia 16 próximo; as greves da Polícia Federal e greves de advertência de outros setores do funcionalismo; a insatisfação no meio militar pelos baixos salários e a falta de reajustes compatíveis com a erosão inflacionária dos proventos.
Nesse quadro de instabilidade política – o Governo procurando rumos sem os achar – sobressai o comportamento estável dos setores produtivos, que continuam a cumprir a sua missão, no país, de criar riquezas e dar empregos, apesar das inúmeras tentativas de desestabilização promovidas pelos grupos de agitação que, proclamadamente, se declaram contra o agronegócio no Brasil – este mesmo setor que consegue produzir os “superavits” comerciais tão proclamados pelo Ministro da Fazenda e pelo presidente do Banco Central nos foros internacionais, como aconteceu, recentemente, em Paris.
Todavia, como ressaltava a Folha de São Paulo em sua edição de 11.04.04, “a apreensão dos bancos e de investidores já pode ser sentida pelo setor privado brasileiro. Entre os doze países que fizeram operações de emissão de títulos no exterior para levantar recursos, o Brasil foi o que menos fechou negócios entre meados de fevereiro e fins de março último”.
O capital é um meio extremamente sensível. É como ave de arribação: só pousa onde o terreno está tranqüilo e sem agitação. Não é isto o que vem ocorrendo, nas últimas semanas, no Brasil, de Norte a Sul, em que pesem os discursos otimistas de representantes do Governo e do próprio Presidente da República.
A paralisia do Governo, que se retrai nos investimentos públicos, pode causar mais temor ao mercado, além de ampliar a crise social com o desemprego. Parece que o Governo esquece as lições da história, o “Plano Marshall” na Europa, em 1947/1948 – incentivado pelos Estados Unidos e outros Governos aliados, o que ajudou a recuperação da Alemanha no pós-guerra; o próprio Plano Roosevelt, nos anos 30, com o programa idealizado por John Maynard Keynes e, nos anos 60, com Kennedy, a “Operação Alça de Bota”, em Porto Rico, fazendo a ilha do Caribe integrar-se, definitivamente, à economia continental dos Estados Unidos.
Não desejo arrimar-me na última entrevista do filósofo Otávio Ianni, aos 77 anos, pouco antes de falecer, ele que foi um dos teóricos do PT. Nem trazer aqui as palavras ácidas de Francisco Oliveira, que conheci como Superintendente-Adjunto de Celso Furtado, na SUDENE dos anos 60, e hoje, crítico acérrimo do Governo Lula. Mas, disse Ianni, o discurso do PT no Governo está “anacrônico”; e Lula frusta as expectativas dos milhões de eleitores, por que “não desempenha o seu papel histórico”. A Índia e a China estão aí, atraindo cada vez mais investidores; e o Brasil parece perder a “corrida da História”, com um discurso oficial, no plano político, anacrônico e ultrapassado, embora, no plano econômico, se esteja seguindo uma política responsável de ajuste fiscal e de cumprimento das obrigações assumidas a nível internacional. Todavia, Sr. Presidente, há que temperar esse “realismo econômico” com políticas de investimentos públicos que possam ajudar na alavancagem do emprego e da renda no país.
Muito obrigado!
Sala das Sessões, em 13 de abril de 2004.

Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA
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