Por: Luiz Lorena A história de Serra Talhada, o maior centro do Sertão do Pajeú, é marcada fortemente pela "presença" de Nossa Senhora da Penha, a qual todos os serra-talhadenses dedicam um carinho especial.
PERFIL HISTÔRICO-RELIGIOSO DA SERRA TALHADA - PE.
Luiz Lorena
APRESENTAÇÃO
A história de Serra Talhada, o maior centro do Sertão do Pajeú, é marcada fortemente pela "presença" de Nossa Senhora da Penha, a qual todos os serra-talhadenses dedicam um carinho especial.
Já antes de chegar a esta cidade conheci o presente trabalho, que o autor teve a delicadeza de fazer chegar às minhas mãos para um primeiro contato com a história religiosa de Serra Talhada. Logo pensei que informações tão interessantes, colhidas com seriedade e não poucas dificu1dades em ocasião do segundo centenário da "Penha" em Serra Talhada, deveriam chegar a todos os filhos desta cidade, incluindo outras pessoas interessadas em conhecer um pouco o passado destes sertões pernambucanos.
É, portanto, com muita satisfação que apresento este "Perfil histórico- religioso" fruto das pesquisas incansáveis daquele "arquivo vivente" da história da nossa cidade que é o Sr. Luiz Lorena.
Que todos, os jovens em primeiro lugar, conhecendo um pouco melhor suas “raízes" possam sentir-se animados em trabalhar para "construir a cidade" com sempre maior fraternidade e justiça, sob o olhar materno de Nossa Senhora da Penha.
Padre Egidio Bisol
Paróquia Nossa Senhora da Penha, 8 de setembro de 1991.
INTRODUÇÃO
Os anos de 1989/1990, registram o Jubileu do bicentenário da invocação de N. S.ra da Penha, como padroeira da Serra Talhada.
À efeméride, o Monsenhor Jesus Garcia Riaño, vigário da paróquia, pretendeu que deixássemos catalogados, para conhecimento das gerações vindouras, alguns fatos que se perderiam na voragem do tempo.
Primeira capela de Nossa Senhora da Penha erigida pelos escravos, por iniciativa de Filadélfia Nunes de Magalhães, nos anos 1789/1790, pertencente à Paróquia Nossa Senhora das Conceição sediada em Flores. Serviu como Matriz da Paróquia Nossa Senhora da Penha de 1842 a 1853, quando mudou o título de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, para uso dos escravos. Em 1967 tornou-se Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.
Todos sabemos que a religião católica no Brasil Colônia, esteve interligada à vida civil, porquanto os párocos administravam a receita recolhida do dizimo, promovendo sua aplicação nos serviços de interesse publico, sobretudo religioso.
Com o advento da independência em 1822, esse sistema permaneceu, face o artigo 5º da Constituição de 1824 determinar que o Catolicismo seria a religião oficial do Império. Esse privilégio só foi abolido em 1891, pela Constituição da República.
Em virtude dessa evidência, não se deve estranhar, que ao se falar da evolução histórica de nossa igreja, sejam mencionados atos e fatos que mais pareçam dualismo - Religião e Política.
I.
Localizada no centro geográfico da capitania de Pernambuco, a área que recebeu o nome de Fazenda Serra Talhada, propriedade da Casa da Torre, Bahia, detentora do morgado de Francisco Garcia D'Ávila, teve o seu território traçado por dois caminhos, que se cruzavam precisamente no local onde foi erigido o primitivo arraial.
A movimentação de portugueses em busca de terras devolutas, ampliada por ruralistas que fugiam da monocultura da cana de açúcar na zona da mata, tornou possível uma vida comunitária de regularidade duvidosa. Não obstante, o português Agostinho Nunes de Magalhães obteve deferimento ao pedido de arrendamento à Casa da Torre para explorar quatro fazendas na região, inclusive Serra Talhada. Em abril de 1757, forma pagos os primeiros tributos por essa ocupação. Tornando possível a reunião de feirantes a partir do dia 10 de fevereiro de 1778, segunda-feira.
Durante os anos de 1789/1790, Filadélfia Nunes de Magalhães, filha de Agostinho, utilizando mão de obra escrava, providenciou a construção de uma capela sob invocação de N. Sra. da Penha de França pertencente à freguesia de N. Sra. da Conceição, da Vila de Flores. Esse pequeno templo erigido à frente da casa senhorial, serve atualmente como matriz à paróquia de N. Sra. do Rosário, fundada em 07 de fevereiro de 1967.
Houve doação de um sitio patrimonial em nome da Padroeira, todavia é pouco provável que se tenha legalizado com escritura. Esse fato fica evidenciado com a legalização em 26/04/1851 de uma área que constitui o atual patrimônio de N. Sra. do Rosário, sobre a qual repousa a maior par te desta cidade. A escritura está assinada por Joaquim de Magalhães Lopita e sua mulher Josefa Cordeiro dos Santos.
A lei provincial nº 52, de 18/04/1838, criou a freguesia de N. Sra. da Penha em Serra Talhada, desmembrada da paróquia de Flores. A efervescência política em Pernambuco, agravada durante a regência, responsável pelo governo do Império, durante a menoridade de D. Pedro II, retardou em mais de quatro anos a instalação desta Freguesia, que finalmente se concretizou no dia 03/12/1842.
A solenidade revestida de inusitada imponência, foi assistida pela grande maioria dos habitantes da zona rural e presidida pelo padre visitador, Francisco Antonio da Cunha Pereira, representante da Diocese de Olinda, que contou com a participação do Padre Antônio Gonçalves Lima, vigário interino, sendo a tudo presentes os fazendeiros Manoel Nunes de Magalhães e Manoel Nunes de Souza.
O padre visitador, conferiu as alfaias e demais pertences da igreja, elogiando o zelo com que mantinham a matriz e seu patrimônio.
II.
O reverendo Francisco Barbosa Nogueira, serra-talhadense, filho do proprietário da fazenda Escadinha, não exerceu função eclesiástica, porquanto se integrou às lides da zona rural. Faleceu aos 18/02/1839, foi sepultado na Capela (Matriz) envolto nos paramentos e encomendado solenemente pelo padre Antônio Gonçalves Lima.
Um detalhe pode parecer estranho: o de que no dia 25/08/1837, o padre Antônio Gonçalves Lima, na condição de vigário interino e o frei Simão do Coração de Maria, instalado na povoação de São Francisco, celebravam atos religiosos, inclusive batizados e casamentos; observa-se que o decreto de criação da Paróquia só foi elaborado no ano seguinte. Alem disso, em 1839 mesmo antes da instalação de freguesia, o padre Felix José Marques Bacalhau, exercia as funções de vigário da Matriz da Penha, tendo como coadjutor o padre Antonio Gonçalves Lima.
Relação nominativa dos vigários:
1836 - O reverendo Francisco Barbosa Nogueira, celebrou batizados e casamentos, em São Francisco. 1837/1838 - Padre Antônio Gonçalves Lima - interino. 1839/ - Félix José Marques Bacalhau. 1839/1840 - Francisco Guedes Ferreira de Brito. 1841/1847 - Antônio Gonçalves Lima - interino. 1847/1848 - Manoel Lopes Rodrigues de Barros. 1848/1851 - Manoel de Souza Ferraz e Atanázio Gonçalves da Silva. 1851/1880 - Manoel Lopes Rodrigues de Barros 1880/1884 - Francisco Tavares Arcoverde e João Evangelista dos Santos Lima. 1884/1892 - Joaquim Antônio de Siqueira Torres, o Cônego Torres, vigário arcipreste. 1892/1896 - Manoel Félix de Moura. 1896/1897 - Frutuoso Rolim de Albuquerque. 1897/1898 - Alexandre de Albuquerque Pessoa Cavalcanti. 1898/1902 - Anízio de Torres Bandeira. 1902/1904 - Vicente Sother Alencar. 1904/1908 - Afonso Antero Pequeno - Monsenhor. 1908/1915 - Zacarias Paiva. 1915 - Vital Paiva. 1915/1919 - Mariano Aragon. 1920/1921 - Zacarias Paiva. 1922/1934 - José Kehrle. 1934/1936 – Alexandrino Suassuna Alencar. 1936/1990 - Jesus Garcia Riaño - Monsenhor. 1991/10 de março – Padre Egidio Bisol
Por decreto do Bispo de Afogados da Ingazeira, foi desmembrada a paróquia de N. Sra. do Rosário, no dia 07/02/1967 e nomeado o padre Afonso Carvalho, vigário efetivo. Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, bispo diocesano, sempre preocupado com a evangelização, decidiu fundar uma terceira freguesia em Serra Talhada, com sede no Alto do Bom Jesus, cujo orago é o Bom Jesus Ressuscitado. O templo moderno teve a construção administrada pelo padre Afonso Carvalho, nomeado titular da nova paróquia. Na vacância paroquial de N. Sra. do Rosário, o padre Afonso foi substituído pelo padre Francisco de Assis Rocha.
Paralelamente ao trabalho dos sacerdotes que serviram ao longo de 200 anos nesta paróquia, constatamos nas pesquisas efetuadas, que houve trabalho missionário de catequese a cargo de frades e até de padres seculares, como é o caso do padre José Antônio Maria Ibiapina.
Em 1837 esteve missionando nesta cidade, o frei Simão do Coração de Maria e logo depois, o padre Francisco José Correia de Albuquerque, ambos convidados do vigário interino padre Antônio Gonçalves Lima, que sentiu-se impotente para enfrentar os fanáticos da Pedra Bonita (Pedra do Reino). O trabalho de conversão foi efetuado num ambiente onde se prometia libertação aos escravos, riqueza material aos pobres e deixar a pele dos negros "branca como a lua". Tudo isso, por conta dos mistérios que envolviam a restauração do reino de Dom Sebastião de Portugal, o qual, segundo pregação do líder facinoroso dos fanáticos, não teria falecido naquele dia fatídico para as armas portuguesas (04/08/1578). Aconteceu, como dizia, que o rei se encantara e só então desencantaria com um exército imponente e transformando as pedras de Serra do Catolé em ouro de bom quilate. Tais promessas feitas num ambiente onde o analfabetismo estava virtualmente oficializado, onde a chaga da escravidão deixava marcas indeléveis e a miséria dos ruralistas era agravada pela ocupação das terras por latifundiários.
A missão em nome de Deus e da igreja teve pouca eficácia. Como era de se esperar, o desfecho final foi sangrento e de crueldade inominável. Os fazendeiros em nome da Guarda Nacional, sob o comando dos Coronéis Manoel Pe rei ra da Silva e Simplicio Pereira da Silva, fizeram valer a força do bacamarte.
Nesse trabalho, desenvolvido por missionários, merece destaque o de frei Caetano de Messina, italiano da Sicília, que promoveu verdadeira revolução desde o litoral ao Pajeú, pregando a fraternidade, o amor ao próximo e o perdão, num ambiente onde só floresciam o ódio e a vingança. Foi em 1853/1854 no vicariato do padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros.
O seu trabalho missionário de quase dois anos, envolveu obras de construção de um novo templo para N. Sra. da Penha e um cemitério, porquanto os sepultamentos eram efetuados até então, nas fazendas ou dentro da própria igreja. Dinâmico, culto e virtuoso, o frei Caetano de Messina, marcou época em Vila Bela. O destino, que sempre foi amigo desta terra, o mandou para cá numa quadra em que se transferia a sede da Comarca de Flores para Serra Talhada, com o nome de Vila Bela.
Desde então, a antiga Capela ficou destinada a N. Sra. do Rosário dos Pretos, onde os escravos podiam participar de atos religiosos e receber sacramentos.
Exigente no cumprimento da missão sacerdotal, o frei Caetano desentendeu-se com o não menos zeloso vigário Manoel Lopes Rodrigues de Barros. Dai terem eles mantido certa dista~cia no cotidiano.
Ao fim desse trabalho, o frei Caetano teve de voltar ao Recife para assumir a função de Superior da Ordem dos Capuchinhos da Penha. Antes, porém, numa solenidade onde reuniu muitas pessoas, ele pediu a presença do vigário para despedir-se dele e do povo, e como das vezes anteriores, pregou o perdão, e ajoelhado aos pé do padre Rodrigues de Barros, suplicou- lhe perdoar por tudo quanto lhe tivesse magoado. E mais ainda, pediu aos presentes que lhe seguissem o exemplo, deixando de lado a máscara do amor próprio... Quem tivesse desafeto se perdoasse mutuamente. Assim Cristo recomendou... O impacto foi tão forte que as rixas existentes entre alguns dos presentes se desfizeram naquele momento.
Frei Caetano deixou entre nós, como obrigação religiosa, as celebrações do mês de maio em honra da Virgem de Nazaré.
Outro missionário que deve ser lembrado, em virtude do gigantismo de sua obra, é o padre José Antonio Maria Ibiapina. Certa ocasião, dizia ele ao superior do Seminário de Olinda, onde exercia altas funções na administração e como professor emérito, que sofrera frustração como advogado, como parlamentar e, havendo abraçado a vida eclesiástica o seu desencanto parecia avultar-se, porquanto, dos morros de Olinda ficava a contemplar a pradaria onde a miséria, do povo desassistido, aumentava assustadoramente. “Não seria pra lá que o Cristo me mandaria?” Perguntou. “Sendo esta sua vocação, vá, seja bem sucedido”, respondeu o superior.
Iniciou o seu trabalho no agreste pernambucano, mais precisamente em Gravatá do Jaburu. Disseminou ao longo da Província casas de caridade e orfanatos, construiu açudes públicos e templos religiosos. O artesanato foi a melhor saída para encaminhar a vida de órfãs carentes.
Em 1872, esse gigante do cristianismo chegou a Vila Bela, havendo providenciado para que se construísse um templo de duas torres em estilo romano, tão maior que a igreja de Frei Caetano, só foi demolida para ter lugar a inauguração, porquanto aquela, ficaria dentro do templo majestoso. Não lhe faltou recursos para consecução dos trabalhos; corajoso, inteligente e hábil, mobilizou os fazendeiros de tal maneira, que cada um. sentia-se responsável direto pela execução dos serviços. De Andrelino Pereira da Silva - Barão do Pajeú, obteve além da carta de alforria pa ra o escravo Miguelino, que lhe construiu as duas torres do templo, uma lâmpada de prata fina para iluminar o sacrário. De valor inestimável, casa jóia em forma de alfaia religiosa, está hoje a serviço de Deus e da igreja na Catedral de Santa Águeda, em Pesqueira, levada sem explicação pelo Bispo Dom José Lopes. Não fosse a exigüidade de espaço, valeria dizer muito mais, de quanto realizou o Padre Ibiapina. Seria injusto não registrar aqui, a ação sócio-filantrópica de sua obra religiosa, distendida do litoral de Pernambuco até Picos no Piauí, na província do Ceará, onde nasceu e na Paraíba, ao tempo em que as viagens eram realizadas a cavalo. Creio, nenhum estadista abnegado, nem mesmo Dom Bosco, se arriscaria ainda agora com a modernização dos meios de comunicação, levar a cabo obra tão meritória. Reestimulou entre nós as comemorações Marianas e deixou o hábito de rezar o oficio de N. Sra. na madrugada.
Deve ficar registrado que o costume de hastear bandeirinha branca, nos terreiros da zona rural, foi uma idéia do padre Ibiapina, para simbolizar a fé e a paz, tão carentes em nosso meio.
Na localização da Matriz de duas torres, em 1872, não se observou atentamente o alinhamento das ruas laterais da praça principal, que devidamente projetada, estava com suas edificações em andamento. O conjunto de construções ficou em desarmonia com o templo, que estava ao centro,em posição diagonal. Por outro lado, viu-se que o seu aspecto físico exterior era de uma rusticidade inaceitável, porquanto o material usado eram pedras sem formas delineadas.
Mesmo assim, a demolição só foi cogitada 53 anos depois, sob o paroquiato do Padre José Kehrle. Em 1925, dia 21 de agosto, realizaram uma solenidade com celebração da eucaristia. Participaram as autoridades e muitos fiéis. Aí foi providenciado o assentamento da pedra fundamental desse monumento sobranceiro a nossa cidade, que é a igreja de N. Sra da Penha, em cujos alicerces estão as pedras da obra do padre Ibiapina.
A construção, que sofreu as conseqüências da grande seca de 1930/1932, prosseguia lentamente até 1934, quando o padre Kehrle teve de ser transferido para Buíque em face de seu envolvimento na política partidária local.
O padre Alexandrino Suassuna de Alencar, nosso pároco durante dois anos (1934/1936), não quis se aventurar ao reinício da obra.
Com a investidura do padre Jesus Garcia Riaño, no dia 18/12/1936, cogitou-se repetidas vezes da retomada dos serviços da Matriz. O volume de recursos ao seu alcance não lhe estimulava sobremaneira. Mas um dia, lhe pareceu que a terra estava firme aos pés, e decidiu precisamente a 03/11/1939, quando trocava-se o nome de Vila Bela por Serra Talhada, reiniciar as obras de construção.
Para maior segurança foi demolida a torre já parcialmente construída, reforçadas as colunas internas e externas e finalmente erigida a atual torre em estilo gótico, pelo habilidoso mestre Josa Padilha.
Vinte e oito anos depois do assentamento da pedra basilar, vertia o ano de 1953, dia 02 de agosto, foi solenemente inaugurada a atual Matriz de N. Sra. da Penha, pelo bispo diocesano Dom Adelmo Cavalcanti Machado, tendo havido missa-pontifical, concelebrada por 15 sacerdotes, às oito horas, no patamar da igreja; foi mestre de cerimônial, o padre Eraldo Cordeiro, então vigário de Floresta. A noite, durante celebração da eucaristia, fez-se ouvir a pregação do frei Eliseu Maria de Oliveira Gomes, atual bispo emérito de Itabuna - Bahia.
Em nome do município falou o Prefeito Moacyr de Godoy Diniz e pelo Apostolado da Oração, que festejava jubileu de ouro, falou o professor Aderbal Mendonça de Maria. Essa solenidade, foi precedida de uma preparação de 30 dias de Missões, nas capelas distritais, pelos frades Capuchinhos da Penha do Recife: Frei Damião de Bozano e Frei Fernando. Ao encerrar, num ambiente de exaltação e da mais profunda emoção, o padre Jesus Garcia Riaño, proclamou que estava vivendo o momento mais feliz de sua vida em terras do Brasil.
São escassos os registros que ensejassem um es tudo sobre o trabalho desenvolvido pelos nossos vigários. Do padre Antônio Gonçalves Lima, dir-se-á que foi vigário e político, com a observação de que quando ocupava cargo publico, não exercia nenhuma função sacerdotal. Por isso tal vez, sempre foi interino desta paróquia. Os visitadores que fiscalizaram o seu trabalho, deixaram registrados elogios sobre o zelo, o carinho e o amor por ele demonstrado na função sacerdotal.
Nascido em-1795, na fazenda Soledade, deste Município, quando ainda Termo Judiciário de Flores, faleceu no dia 09/05/1860. Foi presidente da nossa Câmara de Vereadores por vários anos. Na época em que as epidemias de varíola, peste bubônica e cólera - morbo infestavam toda região a prestimosidade com que se houve o padre Gonçalves Lima ao lado do vigário Manoel Lopes Rodrigues de Barros, qualifica-o como autêntico anjo da guarda das famílias atingidas.
Para que se possa avaliar a extensão da calamidade, basta dizer que dos registros de nossa Matriz, constam 36 óbitos vitimas de cólera - morbo, só no mês de maio de 1856. Esta cidade não atingira ainda 1.000 habitantes.
O padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros faleceu com 60 anos de idade, no dia 70/08/1880, servindo a nossa paróquia num período de 30 anos. Deveria ter estimulado instrução e educação no Pajeú. Nem era preciso ser profeta para antever, que uma mocidade ativa como a nossa, sem o mínimo de instrução, resultaria no que ocorreu. Ao longo dos três primeiros decênios desta centúria, o chamado período do obscurantismo do Pajeú, em razão do banditismo que perturbou o Nordeste, tendo como núcleo Serra Talhada, que foi sede do reinado de Lampião.
No começo de l904, assumiu nossa paróquia o Monsenhor Afonso Antero Pequeno, culto e bravo sacerdote, filho do Cariri (CE), descendente de uma família de Caudilhos. Naquele ano rompeu-se no Crato a aliança política, entre os Coronéis José Belém de Figueiredo e Antonio Luís Alves Pequeno, primo do Monsenhor Afonso, com declaração de guerra entre as duas facções. O Monsenhor, vigário de Vila Bela, solicitou às lideranças locais, cangaceiros, armas e munição, para ajudar ao primo Antonio Luís, na deposição do Coronel Belém - régulo, segundo dizia, prejudicial ao progresso do sul cearense. O Coronel Antônio Pereira da Silva, chefe da família Pereira, sob o pretexto de que não devia ser esta a posição do sacerdote, negou-se ajudá-lo.
Por outra parte, os representantes da família Carvalho se aprestaram em servi-lo. Sob o comando de Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé), formou-se um contingente armado, tendo à frente o próprio Monsenhor Afonso Antero Pequeno, e foi à cidade do Crato, onde contribuiu decisivamente para a vitória de Antônio Luís. O Monsenhor, vitorioso, voltou a Vila Bela trazendo a idéia fixa de derrotar a família Pereira, na eleição municipal do período seguinte. Foi mais uma vez vitorioso e assumiu o poder municipal.
Notícias do Crato lhe dão conta de que o parente Antônio Luís criara uma guarda de segurança no Município, e estava praticando mais atrocidades do que o Coronel Belém. Em Vila Bela, seus correligionários mandaram matar de emboscada um patriarca dos Pereira, ex-prefeito Manoel Pereira da Silva Jacobina.
A frustração lhe perturbava de tal maneira, que renunciou ao mandato de Prefeito, entregando o Município ao vice, fazendeiro José Alves da Silveira Lima, com recomendação de proceder com serenidade.
Logo depois transferiu-se para Garanhuns, onde faleceu. Não sem antes haver plantado no solo fértil de Vila Bela, a semente do banditismo. Daí dizer-se, que com ele começou a época do obscurantismo no sertão do Pajeú, vigente até 1930.
Em se falando de cultura, torna-se imperativo lembrar o nome do padre Mariano Aragon, espanhol, que esteve conosco de 1915/1919. Sua Reverendíssima fundou a Filarmônica Vilabelense,que existe ainda hoje. A nossa banda musical teve seus dias de glória com o notável Mestre Emídio, e com os Maestros Luiz Benjamim e Fernando Moura e Silva, sargentos da polícia. O Jazz Band Serra Talhada, recebeu aplausos em muitos palcos do Nordeste. Considerada uma das melhores orquestras, em pé de igualdade com as da Capital. Serra Talhada tornou-se por isso, celeiro de grandes músicos, sobre os quais se fará comentário em outra oportunidade. Sobre o padre Jesus Garcia Riaño é justo acrescentar que suas ações chegaram aos mais distantes recantos da paróquia. Em razão de haver estimulado as construções do Ginásio Cônego Torres, Escola Normal Imaculada Conceição e Escola Profissional Cornélio Soares. Preocupou-se em dilatar o seu trabalho, edificando as Capelas de Bernardo Vieira, Santa Rita, Luanda, Extrema, Jardim, Varzinha, Caiçarinha da Penha e Logradouro. Sabe-se que ao tempo de Dom Adalberto Sobral, bispo de Pesqueira, o padre Jesus presidiu a sessão que cogitou da instalação da Escola Normal Stella Maris em Triunfo. O padre Afonso Carvalho erigiu a Matriz do Bom Jesus Ressuscitado, uma obra que dignifica seu nome e do orago. O padre Francisco de Assis Rocha, além da edificação da casa paroquial do Rosário, construiu as Capelas de São Cristóvão, N. Sra. da Conceição e Vila da COHAB, em bairros desta cidade. Durante seu paroquiato desenvolveu um trabalho de evangelização merecedor de um capítulo à parte.
No roteiro da documentação pesquisada, constatam-se as visitas pastorais a esta freguesia; a primeira em maio de 1895 pelo Reverendíssimo Cônego João Marques de Souza, no vicariato do padre Manoel Félix de Moura. Decorria mais de meio século de fundação da freguesia. As viagens eram feitas a cavalo, por trilhas quase inacessíveis num ambiente de total insegurança. Os lusitanos aqui aportados eram pessoas de instrução elementar, que traziam a experiência vivida no ambiente da metrópole civilizada. Os descendentes destes formavam um tipo diferente. Uma casta de indivíduos sem a timidez do nativo, nem a lhaneza do português. Daí a razão de ser o sertão a "pátria" da periculosidade. O catolicismo percorria os caminhos apontados por Jesus de Nazaré, não receando enfrentar as adversidades. Implantou uma sementeira na vizinha cidade de Floresta, fundando uma diocese, depois deslocada para Pesqueira. O seu primeiro bispo, Dom Augusto Alvaro da Silva, depois primaz do Brasil. Esse prelado visitou a paróquia da Penha duas vezes: de 30/05 a 09/06/1912 e de 04 a 12/06/1915. Extraordinária figura de sacerdote, Dom Augusto ativou entre nós o ensino religioso e estimulou o apostolado da oração. Foram abertos novos caminhos pela força do Evangelho. Com o advento do automóvel, construiram-se as rodovias. Tudo parece mais fácil à igreja de hoje e as visitas pastorais são atos de rotina. A Diocese instalada em Afogados da Ingazeira, no Pajeú, cujo titular Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, tem dispensado muita atenção e tem tratado com especial carinho os diocesanos de Serra Talhada. Prelado moderno, se destacou no Concilio Vaticano II.
CONCLUSÃO
Prece da Natividade de Maria de Nazaré. Abertura da Festa Jubilar comemorativa dos dois séculos de sua invocação em Serra Talhada-PE., como Nossa Senhora da Penha. Agosto 29, 1990. Luiz Lorena
"E a misericórdia do Senhor se estende de geração a geração sobre os que tem fé". (Lc. 1,50). Paroquianos e devotos da mãe do Redentor, deve mos raciocinar sobre essas palavras saídas dos seus lábios há mais de XX séculos. Nascida de pais ruralistas e desposada por um carpinteiro, não lhe foi penoso assimilar aquilo que a outras mães parecia adversidade. O que lhe preocupava sobretudo, era a missão de entregar o fruto de suas entranhas para redenção da humanidade. Pouco importava que a sociedade daquela época, incoerente como a de hoje, lhe haja negado ambiente convencionalmente condigno para o nascimento do seu filho, que, no entanto fora recebido em festa onde a Natureza lhe reservara um berço diferente, feito de palhas, onde as estrelas pendidas do universo iluminavam o campo repleto de animais que enriqueciam o local, numa gruta trabalhada pelo tempo, havia milhões de anos. E nós? Que ao longo desse tempo não temos sabido conciliar o nosso egoísmo, nem atentar para a inconseqüência da guerra, dos genocídios dos assaltos e seqüestros monstruosos, dos latrocínios e das vinganças de qualquer tipo. As nossas mãos, no limiar do século XXI, são as mesmas que acionaram as flechas para ferir de morte o Nazareno. Particularizando, oh! Senhora da Penha, sobre os 70 mil fiéis desta Paróquia, vimos rogar: estendei a nós vossas mãos, como aljava que pretendesse recolher as flechas da incompreensão que nos ameaça. Que os próximos 11 anos que nos separam do terceiro milênio, sirvam para nossa conversão. Que o século XXI comece em estado de graça para nossa gente e que a fraternidade promane de cada um, com toda eloqüência.
NOTA COMPLEMENTAR
Dia 18/12/1990. O Monsenhor Jesus Garcia Riaño, completa 86 anos de idade e 54 anos à frente da Paróquia de N.Sra. da Penha em Serra Talhada. Nessa data compareceu em Afogados da Ingazeira à presença de Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, Bispo Diocesano, em companhia dos seus amigos Luiz Conrado de Lorena e Sá, Antônio Alves Filho e Edísio Firmino dos Santos, para entregar a Paróquia, em face da saúde precária que lhe exaure o estado físico. O Bispo teve palavras de exaltação à obra realizada pelo renunciante. Aceitando a decisão do Monsenhor Jesus, indicou dias depois o Padre Egidio Bisol para substitui-lo. A posse do novo vigário, teve lugar no dia 10/ 03/1991, com a presença do Senhor Bispo, que concelebrou missa com os 14 Padres da Diocese, e um diácono. A Matriz ficou repleta de fiéis.
(tirado, com permissão do autor, do livro: LUIZ LORENA: Serra Talhada. 250 anos de história. 150 anos de Emancipação política. Serra Talhada: Sertagráfica, 2001)
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