Por: Giovanni Alves Duarte -www.faroldenoticias.com.br João Honorato de Lima, morador da Rua Antonio Terto ,proximo a FAFOPST, é o último pedreiro vivo que ajudou a elevar a igreja à altura de quase 40 metros.
Descoberto último homem vivo que construiu a igreja Matriz de Serra Talhada
A imponência da Matriz de Nossa Senhora da Penha, no Centro de Serra Talhada, esconde a fragilidade das mãos que a construíram. Uma delas deve completar 86 anos em 2011. Seu dono, João Honorato de Lima, morador da Rua Antonio Terto ,proximo a FAFOPST, é o último pedreiro vivo que ajudou a elevar a igreja à altura de quase 40 metros. Desde 1939, ele vem construindo casas, hospitais e escolas na Capital do Xaxado. Hoje, João Honorato relembra com orgulho os traçados arquitetônicos que criou.
A fita métrica, a colher, o martelo e a marreta escolheram o seu artífice quando tinha 15 anos. Na flor da idade, o jovem Honorato conheceu a escola apenas de longe por causa dos constantes serviços nas obras. “Era serviço demais, um por cima do outro. Meu estímulo era para trabalhar”, contou, se auto-proclamando “analfabeto legítimo.” Mas o alheamento aos livros não foi barreira para que o pedreiro alcançasse o título de mestre no assunto. Em Serra Talhada, se alguém pergunta quem é o maior conhecedor dos segredos de uma boa construção a reposta é Honorato.
Troféu: João Honorato pendura na parede da sala o registro de sua participação na construção da Matriz
Ele chegou na cidade no ano de 1936, ainda quando era chamada Vila Bela. Migrou com toda família da cidade de Petrolândia, no Sertão de Itaparica. Seu pai era policial e havia sido transferido para Serra Talhada no intuito de encorpar as perseguições ao cangaceiro Lampião. João Honorato viu o ofício de pedreiro surgir de repente, quando recebeu convite de colegas para ajudar na reconstrução da igreja de Nossa Senhora da Penha, que havia sido demolida em 1925.
Desde esse tempo até a chegada do jovem Honorato à cidade, a obra vinha se arrastando por falta de verbas. Seu João participou do atual projeto arquitetônico desde o alicerce. “Quando eu cheguei as paredes da antiga paróquia estavam condenadas, pois eram construídas com tijolo sentado no barro. Então, derrubamos e começamos de baixo.” A OBRA
Ao lado dos pedreiros Pacheco, Doca, Pedro de Araripina, Seu Dito e José Severino, João Honorato começou a erguer a atual Matriz da cidade. O ano era 1939, época em que José Aureliano de Acioli administrava Serra Talhada e Getúlio Vargas governava o país de forma ditatorial. Sem querer confusão com ninguém, ele acordava às 6h e só parava para almoçar, retornando ao batente às 14h e seguir firme até às 18h.
Segundo Honorato, a parte mais difícil para construir foi a torre. “Nós terminamos a estrutura da igreja com 37 metros e ainda faltava a cruz. Aí a gente foi descendo, aos poucos, com o acabamento. De repente um tio meu caiu (do alto da igreja) com 24 metros. Nesse dia trabalhou ninguém.”
E o senhor teve medo? “Eu não. Já era um viciado”, afirmou. O mestre-pedreiro relatou, em detalhes, o episódio da queda do tio, que, de forma incrível, sobreviveu. “Do nada apareceu um mulher dizendo para jogar uma lata de água gelada nele, para espalhar o sangue. Aí a gente jogou logo três e o corpo dele começou a tremer. Tava de um jeito que era pra botar dentro de um saco (devido os ossos quebrados).” Segundo ele, durante a construção da Matriz várias pessoas além do seu tio caíram do alto da igreja.
João Honorato lembra o tempo em que a falta de dinheiro travou a execução das obras. Para reativá-la, muitos fiéis de Nossa Senhora da Penha chegaram a doar bois e cabras à paróquia. Após a conclusão da estrutura, ficou apenas a cargo de Seu João colocar os vidros coloridos das janelas, executar toda a construção do altar, do piso, dos pilares e da gruta localizada na parte exterior do centro religioso.
A MATRIZ, O PEDREIRO E O PADRE
A Matriz de Serra Talhada só foi concluída em 1953, na gestão paroquial de Jesus Garcia Riaño, o padre Jesus. Ele foi o condutor dos trabalhos de conclusão de uma obra que durou mais de 30 anos para ser concluída. “O que houvesse de serviço dentro da paróquia ele mandava me chamar”, relembra João Honorato, contente. O relacionamento de trabalho diário na paróquia construiu uma relação de cumplicidade entre o pedreiro e o padre, a ponto de o mestre de obras afirmar: “Ô, homem pra gostar de comer mamão.”
Ele conta que, para colocar os primeiros vitrais da paróquia, foi contratado um especialista, que veio de São Paulo e, segundo Seu João, era janonês. Num belo dia, Honorato flagrou o homem na maior farra, entre mulheres e bebidas no antigo Grande Hotel, no Centro da cidade. O problema era o fato da festa ser financiada com verba da igreja. “Aí eu disse tudo a Padre Jesus e fiquei para terminar o serviço”, reconta, em defesa da mão de obra autóctone.
Altura: Na foto dos que ajudaram a erguer a igreja, João Honorato é o mais alto, da direita para a esquerda
A Matriz que brotou de suas mãos lembra o estilo gótico, arquitetura nascida na Europa durante a idade média. Suas principais características são a verticalidade, a utilização de vitrais, portas e janelas com formatos de ogivas, pontas agulhadas das torres numa pretensão de propor um contato com o céu.
A igreja de Nossa Senhora da Penha é um dos poucos pontos turísticos que o município possui. Uma outra atração, com certeza, é João Honorato de Lima, viúvo e pai de oito filhos. Atualmente mora sozinho na casa que ele mesmo construiu, com sete cômodos. Mesmo aposentado (recebe um salário mínimo), ele fez sua última peraltagem arquitetônica há cinco anos. Construiu, sem a ajuda de ninguém, uma pequena casa para uma das filhas.
As comemorações da Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Penha em Serra Talhada mobilizam milhares de pessoas. Acontecem durante o mês de setembro e são frequentes desde 1790.
Quanto sangue, suor e forças foram necessários para erguer a igreja os fieis nem imaginam. |