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MAL DE ALZHEIMER, A FALÊNCIA DO CÉREBRO

Por: José Antonio Séspedes
É singular ver a criatura entre dois mundos, se definhando do lado físico e crescendo no espiritual.
MAL DE ALZHEIMER, A FALÊNCIA DO CÉREBRO


Estudada a partir do início do século passado pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer a doença que passou a ser denominada como “Mal de Alzheimer” está se difundindo rapidamente. Na qualidade de leigo, tanto na área médica como no tratamento da senilidade, abordarei o tema motivado pela experiência vivenciada durante sete anos, o tempo que durou o calvário percorrido por um ente muito especial para mim.

O início

O comportamento vai se alterando, os reflexos se enfraquecendo e as manias aumentando, se fixando em algum ponto, as frases se tornam repetitivas. Perdendo o jeito habitual a pessoa muda a personalidade como alguém que encarna uma entidade estranha. A autocensura se extingue a ponto da criatura se tornar inconveniente, nesse estado ela não conhece mais ninguém, mistura os nomes embaralhando o passado com coisas imaginárias; enfim, os sintomas são de evidente loucura. Os que convivem têm a impressão de estar sonhando, tal o desconforto que fica no ambiente, os afazeres ficam para segundo plano, cada noite representa uma ameaça, quando menos se espera começa a gritaria, se apegando com alguma criancice o falatório se prolonga, até o remédio entrar em ação.

Os médicos e os remédios

O acompanhamento médico e os medicamentos são a âncora que evita de o barco se desgovernar de vez, porém com o passar do tempo as drogas vão perdendo a eficácia exigindo mudanças periódicas, do mesmo modo, quando o médico não corresponde às expectativas deve-se mudar.

Casa de repouso ou o próprio lar?

Internar ou manter o doente em casa é uma questão delicada e não deve ser analisada sob o fervor da emoção, tampouco com a frieza do escapismo. Cada situação é um universo que deve ser analisado intimamente.

Aprendendo com a doença

É preciso encará-la como uma missão que nos foi atribuída, e foi desta forma que as coisas foram mudando. Aprendemos que o tempo subtraído pelos cuidados dispensados ao portador da enfermidade não fazia falta e nossa postura perante a vida mudara, nos deixando mais realistas. Não há faculdade ou escola que possam ensinar o que se passa na transição entre o cérebro e a alma, somente o protagonista se apodera do conhecimento, aos coadjuvantes, cabem as migalhas da observação, e foi isso que eu fiz apanhar as sobras do processo. Enquanto o cérebro agoniza, as experiências passadas começam a travessia migrando para a outra margem, é como alguém que transporta num barco sua bagagem, deixando para traz o que não será usado. É singular ver a criatura entre dois mundos, se definhando do lado físico e crescendo no espiritual.

Epílogo

Optando pela não internação, a doença de Alzheimer criou situações inesperadas e nelas percorremos os extremos das emoções, a indignação se mesclava com a dor e a tristeza. No entanto, de repente éramos envolvidos pela ternura de um olhar que surgia em estado puro “dizendo”: _ “eu estou muito bem apesar da aparência”, nessas horas a vida mostrava seu lado oposto e, na ausência do sol, as estrelas nos consolavam.

Por mais que amamos, nesse estado de coisas a morte deixa de ser uma morada temida e passa ter um significado libertador, a porta que se abre para o pássaro voar. E assim, foi o derradeiro momento...

José Antonio Séspedes - www.outonos.com.br










MAL DE ALZHEIMER, A FALÊNCIA DO CÉREBRO


Estudada a partir do início do século passado pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer a doença que passou a ser denominada como “Mal de Alzheimer” está se difundindo rapidamente. Na qualidade de leigo, tanto na área médica como no tratamento da senilidade, abordarei o tema motivado pela experiência vivenciada durante sete anos, o tempo que durou o calvário percorrido por um ente muito especial para mim.

O início

O comportamento vai se alterando, os reflexos se enfraquecendo e as manias aumentando, se fixando em algum ponto, as frases se tornam repetitivas. Perdendo o jeito habitual a pessoa muda a personalidade como alguém que encarna uma entidade estranha. A autocensura se extingue a ponto da criatura se tornar inconveniente, nesse estado ela não conhece mais ninguém, mistura os nomes embaralhando o passado com coisas imaginárias; enfim, os sintomas são de evidente loucura. Os que convivem têm a impressão de estar sonhando, tal o desconforto que fica no ambiente, os afazeres ficam para segundo plano, cada noite representa uma ameaça, quando menos se espera começa a gritaria, se apegando com alguma criancice o falatório se prolonga, até o remédio entrar em ação.

Os médicos e os remédios

O acompanhamento médico e os medicamentos são a âncora que evita de o barco se desgovernar de vez, porém com o passar do tempo as drogas vão perdendo a eficácia exigindo mudanças periódicas, do mesmo modo, quando o médico não corresponde às expectativas deve-se mudar.

Casa de repouso ou o próprio lar?

Internar ou manter o doente em casa é uma questão delicada e não deve ser analisada sob o fervor da emoção, tampouco com a frieza do escapismo. Cada situação é um universo que deve ser analisado intimamente.

Aprendendo com a doença

É preciso encará-la como uma missão que nos foi atribuída, e foi desta forma que as coisas foram mudando. Aprendemos que o tempo subtraído pelos cuidados dispensados ao portador da enfermidade não fazia falta e nossa postura perante a vida mudara, nos deixando mais realistas. Não há faculdade ou escola que possam ensinar o que se passa na transição entre o cérebro e a alma, somente o protagonista se apodera do conhecimento, aos coadjuvantes, cabem as migalhas da observação, e foi isso que eu fiz apanhar as sobras do processo. Enquanto o cérebro agoniza, as experiências passadas começam a travessia migrando para a outra margem, é como alguém que transporta num barco sua bagagem, deixando para traz o que não será usado. É singular ver a criatura entre dois mundos, se definhando do lado físico e crescendo no espiritual.

Epílogo

Optando pela não internação, a doença de Alzheimer criou situações inesperadas e nelas percorremos os extremos das emoções, a indignação se mesclava com a dor e a tristeza. No entanto, de repente éramos envolvidos pela ternura de um olhar que surgia em estado puro “dizendo”: _ “eu estou muito bem apesar da aparência”, nessas horas a vida mostrava seu lado oposto e, na ausência do sol, as estrelas nos consolavam.

Por mais que amamos, nesse estado de coisas a morte deixa de ser uma morada temida e passa ter um significado libertador, a porta que se abre para o pássaro voar. E assim, foi o derradeiro momento...

José Antonio Séspedes - www.outonos.com.br










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