Por: Gustavo Solidônio Attico Leite é um dos grandes homens que este país teve.
O Engenheiro Antonio Neto, publicou há pouco tempo sua primeira incursão em biografias escrevendo sobre ninguém mais ninguém menos que Solidônio Leite. Eu também disse, na primeira vez que escutei: Solidônio quem? E hoje posso dizer que Solidônio Attico Leite é um dos grandes homens que este país teve, no campo político, jurídico e intelectual e é um dos que precisam ter sua vida e sua história lembrada mais vezes.
Um país se faz também de grandes homens. E quando reverenciamos esses grandes, também nos tornamos grandes. Precisamos aprender isso, e os biógrafos são os nossos guias nessa jornada.
Fernando Morais (ou talvez outro, não tenho certeza) disse que uma biografia com menos de 10 anos não é biografia. Não quer dizer que sejam necessários exatamente 10 anos para se escrever uma biografia, mas apenas que uma biografia não se escreve da noite para o dia, ou apenas com uma visita estratégica. No caso da biografia de Solidônio Leite, foram mais de 4 anos de pesquisa intensa, que acompanhei de perto. Meu pai viajou para quase todos os lugares por onde Solidônio passou, até mesmo Lisboa, em busca de suas pistas. Visitou as bibliotecas desses lugares. Entrevistou todos ou quase todos os seus descendentes vivos. Recolheu e adiquiriu quase toda a sua produção bibliográfica, recorrendo até mesmo a leilões. Por aí se tira que biografar é um trabalho árduo, extenso, expensivo, mas também gratificante, estimulante, instigante. (Se eu tiver que biografar alguém, sem dúvida será Edson Nery da Fonseca).
Tudo começou quando meu pai assumiu a cadeira número 27 da Academia Serratalhadense de Letras, que tem como patrono Solidônio Leite, de quem meu pai pouco sabia na época. Ele, meu pai, então fez uma pesquisa e viu que Solidônio deveria ter sido um grande homem, mas encontrou pouca coisa a seu respeito. Resolveu então escrever ele mesmo.
A biografia mostra que só pode ser gênio um homem que nascido em Serra Talhada, Pernambuco, no século passado, vivendo boa parte de sua adolescência em um orfanato, chega a ser um dos homens mais cultos e procurados de sua época, exercendo cargos executivos importantes, e sendo membro das principais sociedades intelectuais de seu tempo, no Brasil e no exterior. Além de ser advogado, o que foi durante a vida de inteira.
Como eu já disse, viveu boa parte de sua infância/adolescência em um orfanato, onde aprendeu o ofício de ferreiro - sim, o orfanato era para dar ofícios os órfãos, de forma que eles não virassem problema para a sociedade. Bons tempos.
De lá passou por outros lugares até ir para a Faculdade de Direito do Recife, onde se destacou sobremaneira. Escreveu seu primeiro livro terminando o curso superior. E depois não pararia mais de escrever. E escreveu sobre tudo, e tudo que escreveu “causou”. Escreveu sobre petróleo no Brasil. Escreveu sobre o descobrimento do Brasil antes de 1500. Escreveu sobre literatura. Fora isso, também foi um advogado respeitadíssimo, especialmente na área de Direito Comercial. Foi, digamos assim, revisor/consultor do Código Civil Brasileiro de 1916 (era íntimo de Clóvis Beviláqua, de quem foi aluno). Solidônio inclusive defendia maior participação das mulheres na sociedade, já naquela época. Infelizmente, a mente média do brasileiro do início do século passado não estava à altura da mente de Beviláqua e Solidônio.
O livro traz uma carta em que Solidônio relata a seu sogro um caso em que ao advogar para o Barão de Lucena vai ao Supremo Tribunal Federal e ao falar com o Ministro responsável pelo caso, este, ao saber que está falando com Solidônio Leite, diz maravilhas sobre seus livros (os de Solidônio), elogia e diz que há muito queria o conhecer. E Solidônio, com grande modéstia, a modéstia de um ferreiro, diz: “nunca esperei escutar isso de um Ministro do STF”.
Em outra carta, também ao sogro, Solidônio fala da importância dos advogados pernambucanos participarem do Congresso de Direito que haveria no Rio. Se hoje para ser reconhecido é preciso estar no Rio ou em São Paulo, naquela época quem não estava no Rio não existia. E Solidônio já chamava atenção para isso, elogiando bastante seus colegas e amigos de Pernambuco, grandes advogados como José Joaquim Oliveira (seu sogro) e Adolfo Cirne (que era tão bom que hoje dá nome à praça onde fica a Faculdade de Direito do Recife).
Solidônio foi Presidente da Caixa Econômica Federal. Foi também político. De tão honesto, foi até ameaçado de morte (mas isso está nas entrelinhas) ao denunciar um escandaloso caso que envolvia a Revista do STF. Acabou sendo sabotado na eleição, e não pode se candidatar. O Presidente da República, Washington Luís, nomeou-se Consultor-Geral da República, cargo que exerceu magistralmente, com excelentes pareceres, até a sua morte.
Hoje, Solidônio é nome de rua em vários estados brasileiros, nome de escola, alguns de seus irmãos também. Mas este sertanejo merece mais, o Brasil precisa de mais exemplos como ele.
Se há um tempo atrás falar de Serra Talhada era lembrar Lampião, que a partir de agora Serra Talhada lembre Solidônio Leite. Sem dúvida, o filho mais ilustre daquela cidade.
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