Por: Cristovam Buarque * Um futuro que será bom no dia em que, ao nascer uma criança, seus pais digam com orgulho: quando crescer, será professora, ou professor. OU Dia do futuro
O futuro de cada país pode ser visto com clareza ao olhar-se para suas escolas no presente. Por muitos anos, achamos que o futuro vinha das fábricas, estradas, hidrelétricas; e fizemos tudo isso. E o futuro, quando chegou ao Brasil, não pareceu tão bom quanto desejávamos; em alguns casos, pode-se dizer que chegou até pior.
Porque esquecemos que a estrada do futuro está na escola. E a escola é, sobretudo, o professor e a professora: os artesãos que constroem o futuro. Por isso, o Dia do Professor deveria ser considerado também o Dia do Futuro.
No século XXI, a escola precisa ter acesso a todos os meios tecnológicos da modernidade, mas é o professor quem continua fazendo a escola de qualidade. Por isso, um país desejoso de futuro precisa cuidar da trindade do magistério: a cabeça, o coração e o bolso do professor.
O futuro do Brasil só será um bom futuro se todos os professores forem bem formados. Mas não basta a boa formação, se ele não for bem motivado e dedicado ao seu ofício e a seus alunos; e não se pode imaginar um professor bem formado e motivado se ele não for, também, bem remunerado; ao mesmo tempo, não se justifica pagar bem o professor que não for bem formado e dedicado. É uma trindade: formação, motivação, remuneração.
Para mudar nossa história, essa trindade deve ser tratada com a seriedade e o respeito devidos. O dia do professor, o dia do futuro, deve ser um dia de comemoração: uma espécie de feriado nacional comemorando antecipadamente as verdadeiras Independência, Abolição e República que ainda não aconteceram. O que a escola brasileira fez até hoje é resultado do esforço de seus professores, que cumprem seus papéis com heroísmo, mas que só poderão construir o futuro de todo o País se realizarmos uma revolução na maneira como o Brasil os trata.
Uma revolução com base em quatro pilares:
Primeiro, implantar um Sistema Nacional de Educação que permita criar a identidade nacional do povo brasileiro, e acabe com o absurdo de a educação brasileira ser um elemento desagregador, que agrava as desigualdades do passado. O Sistema Nacional de Educação será um meio para construir a base que assegure a cada professor, cada escola, e portanto a cada criança, as condições para a boa educação que vai construir o futuro nacional, independente da cidade onde a criança nasce e da vontade do prefeito ou do governador.
Segundo, como previsto no programa que elegeu nosso governo, aprovar o FUNDEB – Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica, que expandirá o atual FUNDEF, dedicado apenas ao ensino fundamental e com um valor ainda pequeno transferido da União aos Estados e Municípios. O FUNDEB ampliará o número de Estados e Municípios beneficiados com recursos federais, incorporará a educação infantil e o ensino médio, além de continuar atendendo o ensino fundamental.
Terceiro, com base no Sistema Nacional de Educação e no FUNDEB, definir um piso salarial para todos os professores brasileiros, que demonstre a valorização que o País assegura àqueles que constroem nosso futuro, e caminhar para, no mínimo, a duplicação do salário médio do professor, ao longo dos próximos anos.
Quarto, vincular tudo isso à formação e à dedicação, por meio do Programa Nacional de Formação Continuada e de Certificação Federal, que propiciará um aumento na remuneração, vinculado à formação. O sistema de certificação, articulado nacionalmente com a valorização e a formação, de mãos dadas, é o caminho para dar ao Brasil o sistema de magistério de que o País precisa. Quando o Brasil adotar esses quatro pilares, todas as demais necessidades das escolas serão facilmente realizadas.
Na velocidade possível em função dos limites de recursos e do ritmo próprio da democracia e das características do sistema federativo brasileiro, esses quatro pilares estão em andamento, desde que se iniciou o Governo Lula. Ainda falta muito para que eles se façam reais e seus efeitos apareçam e se consolidem. Mas este é o caminho em marcha.
Nada disso pode ser feito apenas por Estados, Municípios ou Governo Federal, mas por todo o Brasil, todos nós, juntos, construindo o futuro por meio das mãos dos nossos professores. Um futuro que será bom no dia em que, ao nascer uma criança, seus pais digam com orgulho: quando crescer, será professora, ou professor.
Nesse dia, o futuro já terá chegado, graças aos professores de hoje.
* Professor, Senador da República pelo Distrito Federal e Ministro da Educação.
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