Por: site:policaparapoliticos Não mostres a ninguém teus sentimentos reais.
De cada 15 que elogiam, pelo menos 14 mentem
A máxima que entitula esta coluna, nos introduz no campo da bajulação, da adulação e da falsidade na vida política. Poucas áreas, se alguma, das atividades humanas, prestam-se tanto ao exercício destas atitudes de subserviência e subalternidade interesseira, quanto a política. A política lida com um valor que é muito cobiçado: o poder, e o séquito de atributos sociais que nele estão pendurados, como o status, o prestígio social, as oportunidades de negócio, a satisfação da vaidade pessoal, o sentido de importância pessoal, a condição de celebridade, a capacidade de fazer valer sua vontade sobre outros, para citar apenas os mais óbvios. A política, portanto, e o poder que dentro dela e por meio dela se conquista, atrai bajuladores para os seus círculos como a luz atrai as mariposas de verão. No interior deste mundo encontram-se os poderosos, pontos focais das atenções, dos agrados, da bajulação, da busca de acesso e proximidade, tanto pela capacidade de usar seu poder para gratificar, escolher, promover, prestigiar, como para prejudicar, para perseguir, punir, excluir... Para a maioria das pessoas - em todos os tempos e lugares - a bajulação, o elogio, a adulação, é considerada - justificadamente - o caminho mais curto e seguro para chegar ao coração do poderoso. A importância da função de governar, as responsabilidades indelegáveis, os riscos pessoais e políticos, legitimam aquela cobiçada condição hierárquica superior, e a correspondente deferência e respeito com que são tratados os governantes. A bajulação e a adulação são as caricaturas das atitudes cívicas e viris de consideração, respeito e deferência para com a autoridade. Maquiavel, encarando o problema do ângulo do governante, as define como "uma peste": "Refiro-me aos aduladores, tão abundantes nas cortes; porque tanto compraz aos homens serem elogiados, e de tal forma se enganam, que dificilmente se defendem desta peste". - O Príncipe, Cap. XXIII. O fato é que, como diz Maquiavel, "compraz aos homens serem elogiados". Como tal, não há como ignorar que são os poderosos, as autoridades, que geram os aduladores. Fossem eles mais resistentes e indiferentes às adulações, elas não seriam praticadas com tanta freqüência. São porque, por certo, produzem os resultados desejados. Esta é uma das grandes lições de Maquiavel: advertir o Príncipe (governante/autoridade) para os riscos de ceder à tentação de cultivar a adulação em torno de sua pessoa. Ela é um daqueles doces venenos que o governante gosta de ingerir. O Cardeal Mazarin (imagem acima), sucessor de Richelieu na Corte Francesa, ao dar conselhos aos aduladores, pode servir de contraponto ao texto de Maquiavel. Pois Maquiavel aconselha o príncipe, e Mazarin os aduladores: "Fala sempre com um ar de sinceridade, faz crer que cada frase saída de tua boca vem diretamente do coração, e que tua única preocupação é o bem comum. Afirma além disso que nada te é mais odioso que a bajulação.(...) ... exercita-te em simular cada um dos sentimentos que pode ser útil manifestares, até estares como impregnado deles. Não mostres a ninguém teus sentimentos reais. Disfarça teu coração como se disfarça um rosto. Que as palavras que pronuncias, as próprias inflexões de tua voz participem do mesmo disfarce. Jamais esqueças que a maior parte das emoções se lêem no rosto". - Breviário dos Políticos- Cardeal Mazarin- Apresentação Bolivar Lamounier. O governante prudente sabe que a maioria dos elogios que recebe são falsos, são atos de bajulação interessada. Mais ainda, seguindo o conselho de Maquiavel, ele procurará evitar que se crie, em torno de sua "corte" uma atmosfera de bajulação. "O único modo de evitar as bajulações consiste em que as pessoas entendam que não o ofendem por dizer-lhe a verdade." Mas atenção, Maquiavel apressa-se a alertar: "Entretanto, quando todos podem dizer-te a verdade, perderão o respeito pelo Principe. O Príncipe prudente deve escolher homens sábios, que dele tenham a permissão de dizer a verdade, mas somente a respeito daquilo que lhes é perguntado. (...) O Príncipe deve aconselhar-se sempre, mas somente quando deseje e não quando os outros queiram. Convém que se lhes tire o hábito de dar conselhos que não foram solicitados. Mas, ao mesmo tempo, pedir conselhos quando necessite, sem impor restrições, e ouvir com muita paciência e atenção as respostas que seus conselheiros dão às suas perguntas, para que a perturbação que o respeito impõe não impeça nenhum deles de expressar suas opiniões". Cuidado, pois, com os elogios. Eles embriagam, e entorpecem o seu espírito crítico. Além disso, a equação - de 15 elogios, 14 são falsos - é sempre uma valiosa lembrança. Ela pode ser exagerada, mas está no rumo da realidade.
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